Acho
que algo se quebrou aqui. Às vezes desconheço o que me pertence, e
se por algum motivo vim a me romper não sei se de fato aconteceu.
Devo ter tantos ajustes e remendos e costuras, que se surge mais um
rasgo eu mesma fico sem me dar conta. Mas dessa vez notei, mais uma
vez, e mais que nunca eu senti a fratura. Está exposta e quase
indecifrável. Olha aqui e perceba o quanto de corpo ainda me resta.
Talvez não seja muito, mas pode ser suficiente para refazer o dano
que causou. Já foram tantos, aliás. Mas cura, e as marcas somem, é
o que dizem. Se pudéssemos apressar o tempo ou regressar nele para
desfazer nossos encontros. Ou se pudéssemos então apagar as
memórias ou comprar um novo corpo. Se eu pudesse ser uma outra
coisa, um ser diferente deste, e não precisasse de tanto só para
poder existir…
Nenhum
‘se’ é possível, eu sei. E mesmo sendo, a vida daria um jeito
de me fazer fraturas constantes, como diz a regra. Talvez eu precise apenas me ajustar ao tempo e seguir com ele o quanto for necessário até a próxima fenda. Me basta juntar os retalhos e ir me formando novamente, unindo pedaço por pedaço com uma linha, e seguir. Até o próximo.
2 comentários:
Incrível!!
Você deveria escrever mais!
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