quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

Ensaio sobre o caos


O tempo de hoje já não é o mesmo. Tudo nos urge e somos forçados a dar passos largos, aumentar o ritmo das coisas e a se ajustar ao que nem nos pertence. O tempo de agora obriga a gente ser um tanto mais do que deveríamos, e cumprir o ofício de tornar-se alguém para além de nós mesmos. Quase não sei como seguir o arranjo desses impasses, e por vezes minhas próprias pernas se esvaem diante dessa confusão moderna. Me torno vulnerável ao caos que nos atravessa. Quem de nós há de saber como se esquivar desse percurso ilusório que nos direciona para um abismo dessa gente programada? Quando há de surgir um momento em que nos remeta à gênese de nossa existência para recompor o simplório de uma vida? Somos a junção degradante de uma finitude supérflua onde o que mais vale é o acúmulo inútil das coisas. E assim todos sobrevivem desvairados na ideia de que agora são mais vívidos do que antes. Fingem para si mesmos como se acreditassem nos próprios enganos, mas apenas vagam feito fantasmas subalternos regidos por uma ordem disciplinária regente do que devem ou não pregar. Obedecem. Tornam-se eles vítimas das próprias armadilhas, culpam a si próprios, assolam o pouco que lhes restam. E seguem na crença de que são sim os donos de uma verdade inexistente, mas o suficiente para que se perpetuem dissimulados e insanos.

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