Por onde ir quando não existe direção? Os caminhos às vezes mudam o sentido quando algo se muda dentro da gente. Por vezes só é preciso que uma parte nossa deixe de nos pertencer para desviar um destino completo. É o que causa o amor quando já não é amor. E agora venho a saber disso como quem aprende à força uma tarefa indesejada. Como quem, mesmo não querendo, se vê suspenso num vão que lhe impede de seguir o mesmo percurso de antes por não ter mais quem o acompanhe.
Um dia eu soube sobre o amor, e na mesma intensidade estou sabendo também sobre a falta dele. Vivo na indiferente maneira de me guiar nesse percurso desconhecido onde desaprendi a ser só, e sou forçado a dar passos onde o meu único querer se resume em não continuar. Então resta-me a estranheza de se ajustar a esse espaço que não cabe apenas a mim, que ainda deixa os rastos do alguém que se foi há pouco e nem sequer fez questão de levar tudo de si, e que me faz sentir-se menor do que já sou.
Restam uns poucos retalhos sem serventia alguma, pedaços que se juntos não trazem forma, mas que me foram deixados para serem lembrados de algum modo. E eu os recolho, como recolho os vestígios de memória, de momentos, da presença, de algo bom.
Avisto novamente a linha tênue que contrasta entre o amor e a falta do amor, e mesmo não querendo já me vejo expulso de um lado e submerso no outro sem cautela, sem serventia. Sendo apenas alguém que é banido por não ter o mérito de pertencer a um lado da vida, por não carecer ser digno de um pouco mais de afeto ou seja lá o que possa vir a ser. E aqui, deste lado impróprio da existência tenho que recompor a mim mesmo, recomeçando pelo início, ou talvez pelos avessos, traçando um destino sem direção alguma, mas que seja suficiente para que eu possa dar um passo por vez.