Apressa-te, pois tudo agora já me basta.
O
estertor que comporto exibe-se diante de mim como se soubesse o
quanto não mais o suporto.
As
pregas do rosto enraízam nas minhas veias e se sucumbem a tudo que
me existe.
Envelheço
por dentro e por fora.
Por
isso apressa-te que teu tempo ainda é lento mas o meu não demora
chegar.
Segue
comigo esse percurso da vida onde não me permitem andar sozinha.
Retira
as vaidades que te rodeiam e se dedicas a mim por esse pequeno
instante que me pertence.
Seja
agora o que um dia fui a ti.
Se
não sabes, o cuidado se faz quando notares que eu também sou parte
tua.
Contradizes
o tempo e me tens como tua filha.
Reinventa
a maternagem, me retira de teu útero e devotas o cuidado que agora
necessito.
Apressa-te,
pois tudo já me basta.
Vem
até aqui, menina. Doa-se um pouco a mim.
Por
que não vês que agora sou eu quem te carece?
Estou
a teus olhos. Me enxergas como antes fazias.
Queria
eu poder chamar-te de filha e desvelar novamente os teus passos.
Pudera
eu trazer-te de volta para meus braços e retificar o erro de não te
ensinar a ser cortês.
Talvez
assim irias me ver diferente de agora.
Talvez
assim também irias ao menos por um vez chamar a mim pelo que tanto
conheces mas agora insistes em negar.
Talvez
só assim pudesses, finalmente, voltar a me chamar pelo nome de Mãe.