quarta-feira, 8 de janeiro de 2020 0 comentários

Súplicas ao cuidado









Apressa-te, pois tudo agora já me basta.

O estertor que comporto exibe-se diante de mim como se soubesse o quanto não mais o suporto.

As pregas do rosto enraízam nas minhas veias e se sucumbem a tudo que me existe.
Envelheço por dentro e por fora.
Por isso apressa-te que teu tempo ainda é lento mas o meu não demora chegar.
Segue comigo esse percurso da vida onde não me permitem andar sozinha.
Retira as vaidades que te rodeiam e se dedicas a mim por esse pequeno instante que me pertence.
Seja agora o que um dia fui a ti.
Se não sabes, o cuidado se faz quando notares que eu também sou parte tua.
Contradizes o tempo e me tens como tua filha.
Reinventa a maternagem, me retira de teu útero e devotas o cuidado que agora necessito.
Apressa-te, pois tudo já me basta.
Vem até aqui, menina. Doa-se um pouco a mim. 
Por que não vês que agora sou eu quem te carece? 
Estou a teus olhos. Me enxergas como antes fazias.
Queria eu poder chamar-te de filha e desvelar novamente os teus passos.
Pudera eu trazer-te de volta para meus braços e retificar o erro de não te ensinar a ser cortês.
Talvez assim irias me ver diferente de agora. 
Talvez assim também irias ao menos por um vez chamar a mim pelo que tanto conheces mas agora insistes em negar.
Talvez só assim pudesses, finalmente, voltar a me chamar pelo nome de Mãe.





 
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