quarta-feira, 4 de dezembro de 2019 0 comentários

Monomania



Sobre o amor não sei tanto, mas se por acaso alguém me pergunta de você, saberei te dizer dos pés à cabeça, dos detalhes e minúcias de cada traço. Dos fios, da pele e suas camadas, do seu sangue, da carne e de todos os outros órgãos. Saberei te dizer um tanto mais que isso se porventura também me perguntarem da sua alma. Saberei transcender as margens do teu corpo e falar do que você é, do que te escapa e o que te sustenta. Saberei dizer dos teus amores e dos teus repúdios, das tuas birras, teus caprichos e teus medos. Saberei te dizer porque enquanto você não me olha estou te devorando aos poucos, aos bocados, te tomando para mim instintivamente, desonestamente e subversivamente. E saberei que se por qualquer engano que haja alguém vir querer saber de você, eu irei te dizer desvairado sem juízos, sem restrições.  Isso o faço por crer que desse jeito você, enfim, saberá também de mim, mesmo que em descasos.
Mas depois de tudo, direi também do que sou. Deste eu que está um tanto de você. Direi que te engoli de todas as formas, que existem pedaços seus que trafegam pelo meu corpo. Direi que enquanto você não me enxergar continuarei roubando você, até se sufocar dentro de você mesmo. Até eu me transbordar inteiro de você. Até seus fragmentos se encaixarem dentro de mim como um quebra-cabeça vai aos poucos desvendando o enigma da imagem. Até eu te formar inteiro em mim e perder a mim mesmo. Até você descobrir a minha existência que ameaça se perder. 
Mas se por alguma eventualidade, ou instante qualquer você me perceber, te direi que te roubei inteiro só porque sobre o amor não sei tanto. 


 
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