O encanto se
fez no minúsculo de uma vida, que na sensibilidade de suas feições fez renascer em mim o que há muito eu já não mais
conhecia. É esta infância que cresce aos meus olhos que me põe no colo e abraça
com a grandeza de um amor que me reconstrói, trazendo de volta os pedaços que faltavam
para me completar. Rendo-me à miudeza deste ser que não se cansa de ensinar. Como se ele soubesse que tudo que fui já se perdeu de
mim faz tempo. Como se ele soubesse que a dificuldade da maturidade está nos
desgastes que se leva com o tempo, com as percas que deixei perderem-se, só
para ter o prazer de crescer e crescer, e saber que sei mais do que quando fui
minúsculo também. E o erro se faz aí, meu filho. Você me ensinou uma vida toda mesmo ainda estando no início dela, e eu quero ensinar-te com o erro que cometi
de querer ter mais vida do que eu tinha antes. Ensino-te então que a vida se
faz assim, como tu estás, criança, mas que se continua criança também. A continuidade
da vida se cria com a sabedoria que não tive, mas que agora venho dizendo. O
segredo está em não deixar pedaços pelo caminho. O segredo está em levar-te
inteiro por onde passares, meu filho. Conto-te isto, mas não sei se
recordarás do que te falo, não sei se te importas em lembrar de coisas para
fazer depois. Estás preocupado com o presente, preocupas-te mais com as
fantasias que envolvem tua imaginação, e que daqui fico tentando entende-las. Daqui
te enxergo nos detalhes e vejo que ainda não aprendi tudo que me queres
ensinar. E por isso que me chamas agora para devolver-me os retalhos da vida, para
reconstruir-me com os pedaços que faltam. Se tu não tivestes vindo, jamais
saberia que o que me faltava era apenas a tua presença, a tua inocência
trazendo de volta a minha, tu devolvendo o que um dia fui.
Somos então um
reflexo.
Tu és a
criança que deixei de lado, e mesmo assim agora me puxas para dividir comigo as brincadeiras, e envolver-me com o encanto das coisas pequenas... Com o teu encanto.